O que tem dentro do seu corpo era o meu coração.

sexta-feira

Nov 26





Você é sempre tão boa, que nem sei como começar a falar de tudo isso. Tenho medo que algo fira a sua sensibilidade cor-de-rosa, ou despedace os seus sonhos. Porque você sempre me diz que há um outro lado que pode ser belo, uma outra visão que vale a pena observar, contra-pontos que merecem algum respeito. E por mais que eu não siga seus conselhos amáveis e dóceis, eu os escuto. Te vejo, e penso comigo: como pode, tanta ingenuidade? Quem colocou todas essas idéias coloridas e desconexas dentro do seu pensamento, e deixou você acreditar que tudo era assim: mil possibilidades, outro lado da moeda, sonhos intrínsecos, sorriso no rosto? Não cansa não, acreditar no amor assim, tão fervorosamente que beira o fanatismo? Você gosta de dar chances, uma, algumas, cinco, mil? E cai sempre nos mesmos erros, na mesma arapuca. Fico com pena, e então algumas lágrimas caem dos seus olhos escuros, que não fazem barulho algum, mas mexem comigo por dentro, e apenas rolam entre as maçãs da tua face corada. Não sei o que dizer, justamente pela sua fala eloqüente, que não cessa nunca. Pelas palavras bonitas que você desemboca, sempre na hora certa. E qualquer coisa que te digas, parecerá meio clichê, meio zombeteiro. Mesmo com uma coleção de saias-cintura alta, e vários pares de sapatos, ouço da tua boca: não é isso que me faz feliz. Ou faria. Queria que a sorte estivesse na casa do amor, e saísse logo do jogo. E falo para você, que quer abraçar o mundo e correr com o tempo, ter calma. Sei que estás em paz, que o que exaspera é logo essa calmaria, constante. E não há mais muito o que fazer, a não ser te lançar um olhar de cumplicidade, daqueles do tipo "eu estou aqui". Sabendo que na verdade, quem estará lá, sempre pros outros, e quase nunca para si, é você.
Fica difícil acreditar que você é a mesma que provoca na noite, com o drink magenta na mão, e que no outro dia se esconde atrás de óculos-enormes-escuros, e movimentos em slow motion. Que cumprimenta tímida os vizinhos, e canta alto músicas que tocam a alma. Que faz rir nos momentos em que a gente quer morrer, e chora baixinho e como criança, por pisarem no seu pé. Ou quem sabe, no seu coração. Te ver crendo cega em todo esse amor que tens aí dentro, dá vontade de amar também. Qualquer coisa, um animalzinho, as maquiagens novas, ou aquele cafajeste, que combinamos de chutar, e nunca adianta muito - a carne é realmente muito fraca. Quando ficas quieta, há algo errado. E mesmo não sabendo o que é, compartilhamos de um silêncio cúmplice, embebido em intimidade. Logo depois, estamos comentando sobre como somos azaradas, e planejando o que terá, e o que ficará definitivamente de fora, nos nossos casamentos. Analisando cada detalhe de qualquer conversa, e revendo, rebobinando por horas à fio tudo o que aconteceu, tentando encontrar compulsivamente alguma culpa, além da nossa em existir. Tendo a certeza completa de que, por mais que a gente caía e levante com alguma força ainda maior, veloz, temos ainda bengalas bonitas pra toda essa reabilitação, ou fisioterapia: a amizade uma da outra.
Mesmo sendo diferentes ao extremo. Em gostos musicais, ou degustativos. Na dança, na festa, ou na ópera. Alguns conselhos, que sei que na sua personalidade forte, não seguirás: não acredite em tudo, nem no que ouve, muito menos no que vês. Atitudes, por mais ferinas ou bruscas, dizem muito mais do que qualquer palavra bonita, cantarolada ao pé do ouvido. Prefira a simplicidade, ao luxo. O normal, ao difícil. Sei que querer o impossível não te cansa, mas uma hora, é preciso descansar. Não se esconda em casa, e continue aproveitando toda terça, quinta, ou sábado. Quem sabe, às sextas. Não deixe de beber, mas continue como está: moderadamente. Se sinta linda, porque é isso que você é - ma-ra-vi-lho-sa. E não sou eu quem te digo, o que é melhor. É o menino da festa, o açougueiro da rua, o excecutivo de terno que agora passa. Se você se sentir deslumbrante, assim será. E por fim: não se esconda nunca. Se ache, se encontre. Nas atitudes que a sua intuição e impulsividade fazem ocorrer, ou naquilo que pensa ser o certo, mesmo que certeza nenhuma exista.
Com amor, da sua melhor amiga.





Camila Paier

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